sábado, 30 de maio de 2009

***Destinos***


Cada mancha de dor que sinto transbordar da minha vida é como um doce tormento que não me deixa sucumbir---- lentamente faz-me erguer numa luta constante com os meus medos, qual efémero desejo de nem estar aqui e desaparecer eternamente. A sombra do meu flagelo persegue-me sem cessar, tornando-me cativa da minha própria ilusão e criando novos horizontes para o meu sonho indefinido. Levo-me por uma estrada que termina num profundo abismo, como a querer representar o fim do meu mundo inexequível e tropeço na minha própria dor…. e o chão eclipsa-se debaixo dos meus pés, quando me sinto puxada pela força invisível da gravidade, para as águas do precipício do meu pesadelo irracional…. e o meu descanso imerge nas profundezas do oceano, inabalável.....

Desassossega-me, Bernardo Soares


Cada frase, cada palavra projecta-me para uma imensidão de dúvidas e sentimentos estranhos. A primeira vez que este livro repousou perto do leito dos meus sonhos, só lá esteve dois dias: foi completamente devorado!! Absorvi as suas páginas em menos de nada e chorei, chorei por sentir-me impressa naquelas sentenças e por me sentir impressionada que alguém pudesse envolver-se de um estado de espírito tão sombriamente belo… Só quem leu e se maravilhou :-) pode entender. São como desejos entrecortados por experiências de vida embrenhadas numa completa solidão… na escuridão do isolamento social, como se as palavras ditas pudessem querer significar meros instrumentos de tortura. A dor que nem é sentida promove essa relação com o mundo. Senti-me imediatamente arrepiada: “… e do alto da majestade de todos os sonhos…” fui procurando mais, seguindo a vida deste ajudante de guarda-livros da cidade de Lisboa, até à última sílaba… até ao expiro final…
Sonhei Bernardo Soares como um homem que nem sabia quem era… mas que sabia o que era. Olhei-o intensamente admirada pela sua prosa poética, capaz de absorver o meu espírito, reverenciando a sua obra. E reli e reli até cada som silencioso ficar inscrito na minha memória--- permanecendo inadvertidamente imiscuído nos meus sentidos.... para todo o sempre.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Vou onde me levarem os sonhos…

Gosto de ver as coisas. Observá-las no verdadeiro sentido. “Perder” tempo com elas. Perder-me nelas. Adorá-las, interiorizá-las. Creio que é razoável fazer o mesmo com as pessoas. Perscrutar-lhes a alma até ao limite das possibilidades. Senti-las pertencerem-me, ou então sentir que lhes pertenço. No entanto, sempre que me relaciono com alguém não posso evitar uma certa dramatização dos factos.
Algures na minha passagem pelo mundo real conseguiram aguilhoar-me e agora é tão difícil voltar a confiar. Os sentidos mantêm-se constantemente em alerta, numa tentativa de evitar a reincidência.
Penso a vida como algo de transcendental, um dom tão intenso quanto belo e abdicar dela é, em si, um erro crasso. Gosto de viver. Quero viver, não apenas existir; quero ser, não apenas estar!! E há tantas coisas para amar… tantos sonhos a realizar! Quero fazer tudo, viver tudo, amar tudo, na sua essência. Pelo simples prazer que isso me pode dar…. Quero soltar-me das amarras em que me prenderam e seguir até ao meu limite, pelo horizonte do meu pensamento e perder-me por lá… Quero ir até onde me levarem os sonhos!!…

Comportamentos


Como é estranho o conhecimento interpessoal… imagino sempre as personagens que intervêm no meu mundo como perfeitos desconhecidos, tal como as imagens de um filme que passa diante de mim, sem que consiga materializá-las como verdadeiras. Isto resume-se ao facto de uma parte de mim estar constantemente a analisar o perfil humano, numa tentativa, frustrada ou não, de emitir julgamentos psicológicos sobre os meus interlocutores. Talvez até me possa considerar uma misantropa, tendo em conta que praticamente não tenho amigos (sou uma pessoa de relações difíceis, diria) e nem os quero ter. As horas, os dias, o meses… que prefiro ficar a deambular vagamente por casa a fazer nada (ou tantas coisas) podem querer significar algo de estranho no meu comportamento, mas não necessariamente a misantropia. Mas se efectivamente sou uma misantropa (e não me assusta a palavra, com todo o seu significado intrínseco), sinto-o como algo de fantasioso, nada mais que uma palavra, no meio de tantas que me preenchem, para me ilustrar perante um universo que não esmorece sem mim--- fica apenas indiferente. E eu gosto da minha companhia…. Gosto de estar só! Comigo! Sou tentada a rever-me como um mero dado estatístico neste lugar terreno, onde a minha ignorância é distante aos olhos dos demais, onde nada importa a não ser a verdade que cada um cria, numa tentativa de não ultrapassar o vazio de outrem. Pergunto-me, a cada instante, o que torna o ser humano cruel, mas depois revejo-me no espelho como um ser humano e a tentativa de me mudar, nesse aspecto, parece nem ter resultado comigo. Não quero com isto dizer que estou descontente com a minha forma de ser, claro que há sempre um ou outro pormenor que gostaria de alterar, mas penso na minha essência como algo de bom e quero colocar isso ao serviço da Humanidade. Mas, na maioria das vezes vejo-o como algo muito difícil de alcançar e penso sempre que os meus esforços são inglórios, mediante o problema da propagação multiplicada. E, talvez por isso, sinto-me sempre uma perfeita estranha no meu próprio mundo!!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Não Penso, Sonho...


Os sonhos são como vozes que me libertam, intensificando um doce encantamento espiritual e dramático numa essência divina, estranhamente corrompida, por desejos convulsivos de algo que não consigo reconhecer inteiramente. Vislumbro-os sempre através de uma sombra de luz intensa, que permite criar esboços indefinidos no meu horizonte, conduzindo-me por um trilho idílico mas exigente. Antevejo os sonhos como pedidos mudos que se fundem em mim, inconscientemente, como se a minha vida lhes pertencesse; como se fossem a minha vida; envolvo-me em sorrisos tristes quando não sonho, saboreio angústias imortalizadas em prazeres carnais ocultos, reflectindo um qualquer distúrbio vivenciado por amores platónicos e sentimentos algo trôpegos, que digladiam numa intensa batalha, confundindo-se plenamente em si próprios, emitindo sacrifícios ambíguos por algo, necessariamente, inconcebível.

Sonhos são raios de Sol que surgem, débeis, propagando-se nos meus silêncios e aquecendo-os, no seu sopro de existência que é, por vezes, insignificante e outras, inevitável. Gasto a vida nos sonhos, como se a realidade fosse demasiado cruel para acreditar na sua índole espiritual. Intensifico desejos e imagino o indiscernível numa constante ignorância inequívoca, manifestada num suspiro de aceitação abnegada, como se um símbolo algo obscuro, pudesse ficar eternamente gravado a fogo no meu espírito, tornando-se real, inesquecível... interminável!

Sonhar é um deslumbramento dos sentidos, despertos pelo prazer de se confundirem na sua ideologia semelhante e da qual advém uma necessidade de manifestação de toda energia neles contida, como um desejo inquieto de entorpecer dúvidas que nem é possível definir e, aceitar a sua essência na busca da perfeição, para que esta se reflicta intensamente no espaço translúcido que nos separa irremediavelmente. E, por fim, é sentir um ligeiro torpor que me incita a observar as águas tumultuosas do meu pensamento e imergir nelas, permitindo que o tempo se esvazie para que não mais me envolva esta imensa vontade de chorar....